Empresas sustentáveis que transformam o setor do mobiliário em Portugal

Empresas sustentáveis em Portugal

A revolução sustentável no mobiliário português

Portugal tem uma rica tradição no setor do mobiliário, com artesãos qualificados e uma herança cultural que valoriza peças bem construídas e duradouras. Nos últimos anos, temos testemunhado uma transformação significativa neste setor, com empresas pioneiras a adotar abordagens inovadoras que combinam essa tradição artesanal com princípios de sustentabilidade e economia circular.

Estas empresas estão a redefinir o que significa produzir móveis em Portugal, mostrando que é possível criar peças bonitas, funcionais e de alta qualidade enquanto se reduz o impacto ambiental e se contribui positivamente para as comunidades locais. Vamos conhecer algumas das mais inspiradoras empresas de mobiliário sustentável que estão a mudar o panorama em Portugal.

Pioneiros da economia circular no mobiliário

Resiclar Design (Porto)

Fundada em 2017 por um grupo de designers e carpinteiros, a Resiclar Design tem-se destacado pela sua abordagem inovadora à recuperação de madeira de demolições no norte de Portugal. Trabalhando em estreita colaboração com empresas de demolição, recuperam vigas centenárias, soalhos e outros elementos de madeira maciça de edifícios antigos que seriam descartados.

O que diferencia a Resiclar é o seu sistema detalhado de rastreabilidade. Cada móvel vem com um "passaporte de materiais" que conta a história dos materiais utilizados, incluindo a idade, origem e tipo de madeira. Os clientes podem conhecer a história completa do edifício de onde veio a madeira da sua mesa de jantar ou estante, criando uma ligação emocional única com a peça.

A empresa também se destaca pelo seu programa de formação, oferecendo workshops e estágios para jovens em risco, ensinando-lhes técnicas tradicionais de marcenaria e carpintaria. Este compromisso com a responsabilidade social garantiu-lhes reconhecimento a nível nacional, tendo recebido o Prémio Inovação Social em 2023.

Ícone de sustentabilidade
"Não estamos apenas a salvar madeiras preciosas dos aterros; estamos a preservar a história e a cultura portuguesa através das nossas peças. Cada móvel conta uma história única de um edifício que já não existe, mas cuja essência continua a viver nas casas dos nossos clientes." - Inês Rodrigues, Cofundadora da Resiclar Design

EcoMadeira (Alentejo)

Estabelecida na região do Alentejo, a EcoMadeira ganhou notoriedade por seu trabalho revolucionário com sobreiro e madeiras nativas. Em vez de depender exclusivamente de madeira reciclada, a empresa desenvolveu um modelo de gestão florestal regenerativa, trabalhando com pequenos proprietários florestais para implementar práticas sustentáveis que aumentam a biodiversidade e a resiliência das florestas portuguesas.

Para cada árvore utilizada, a EcoMadeira planta dez novas árvores e implementa um programa de monitorização da saúde da floresta ao longo do tempo. Isto vai além da simples compensação, criando um impacto positivo líquido nos ecossistemas florestais portugueses.

Os seus móveis combinam cortiça (extraída de forma sustentável do sobreiro sem danificar a árvore) com madeiras recicladas e certificadas FSC, criando peças distintamente portuguesas com uma estética contemporânea. A empresa também desenvolveu um inovador acabamento natural baseado em óleos essenciais de plantas autóctones, eliminando por completo o uso de produtos químicos tóxicos.

MetalVida (Lisboa)

Com origem num pequeno atelier de metalurgia em Lisboa, a MetalVida transformou-se numa das mais inovadoras empresas de mobiliário sustentável focada na reciclagem de metais. Recolhendo tudo, desde estruturas industriais obsoletas a sucata de automóveis e eletrodomésticos, a empresa cria peças de mobiliário com estética industrial que conquistou mercados internacionais.

O que torna a MetalVida especialmente notável é o seu sistema fechado de produção: todos os resíduos metálicos das suas operações são reincorporados na produção, criando um ciclo verdadeiramente circular. A empresa também desenvolveu um processo proprietário de tratamento de superfície livre de toxinas, substituindo galvanizações e pinturas convencionais por alternativas à base de minerais naturais.

Além disso, a MetalVida está na vanguarda da integração de tecnologia em móveis sustentáveis, incorporando soluções como iluminação LED de baixo consumo energético e pontos de carregamento wireless que utilizam apenas componentes recicláveis.

RenovArt (Braga)

A RenovArt destaca-se pela sua especialização em restauro e upcycling de móveis antigos, dando nova vida a peças que de outra forma seriam descartadas. Esta empresa familiar, agora na sua segunda geração, combina técnicas tradicionais de restauro com abordagens contemporâneas ao design, criando peças que respeitam a herança do mobiliário português enquanto o adaptam às necessidades modernas.

A empresa estabeleceu parcerias com várias câmaras municipais no norte de Portugal para recolher móveis descartados antes que cheguem aos aterros. Estes são cuidadosamente avaliados, restaurados quando possível, ou desmontados para recuperar materiais ainda úteis.

Um dos seus projetos mais inovadores é o "Banco do Tempo", onde os clientes podem trocar horas de voluntariado em projetos ambientais comunitários por descontos em móveis restaurados, criando um sistema de economia alternativa que beneficia toda a comunidade.

Startups inovadoras a acompanhar

PlásticoNovo (Aveiro)

Uma das startups mais promissoras no setor do mobiliário sustentável, a PlásticoNovo está a revolucionar a forma como vemos o plástico reciclado. Trabalhando principalmente com plásticos recolhidos das praias e rios portugueses, desenvolveram um processo inovador que transforma este material em componentes duráveis e esteticamente agradáveis para mobiliário.

A sua linha de mobiliário de jardim, feita 100% de plástico oceânico reciclado, ganhou vários prémios de design a nível europeu. O que torna os seus produtos verdadeiramente revolucionários é a sua "circularidade planeada" - cada peça é projetada para ser facilmente desmontada e reciclada no fim da sua vida útil, criando um ciclo verdadeiramente fechado.

A startup também desenvolveu um programa educacional que já alcançou mais de 5.000 estudantes em Portugal, ensinando sobre os impactos do plástico nos oceanos e como a economia circular pode ser parte da solução.

Têxtil Circular (Guimarães)

Combinando a rica tradição têxtil do norte de Portugal com inovação sustentável, a Têxtil Circular está a criar uma categoria inteiramente nova de mobiliário estofado. Utilizando resíduos têxteis da indústria da moda e roupas em fim de vida, a empresa desenvolveu um processo para transformá-los em novos tecidos duráveis e resistentes para estofamento.

As suas técnicas inovadoras incluem a criação de "tecidos híbridos" que combinam têxteis reciclados com fibras naturais locais como linho e lã. Isto resulta em materiais surpreendentemente resistentes e com propriedades interessantes, como maior resistência a manchas e durabilidade.

A startup também desenvolveu espumas alternativas para estofamento feitas de materiais naturais como cortiça granulada e sobras de produção de azeite, eliminando a necessidade de espumas sintéticas derivadas de petróleo.

Colaborações e inovações intersetoriais

Projeto Floresta-Móvel

Uma iniciativa colaborativa entre várias empresas do setor, organizações ambientais e universidades, o Projeto Floresta-Móvel está a desenvolver novas abordagens à gestão florestal sustentável especificamente orientada para a indústria do mobiliário.

O projeto está a mapear as espécies madeireiras nativas de Portugal, identificando aquelas que têm potencial para substituir madeiras exóticas importadas. Também está a investigar modelos agroflorestais que combinam a produção de madeira com outros produtos florestais como cogumelos, mel e plantas medicinais, maximizando o valor económico das florestas enquanto aumenta a sua biodiversidade.

Um aspeto particularmente inovador é o desenvolvimento de um sistema de certificação específico para o mobiliário português que considera não apenas a origem da madeira, mas também práticas trabalhistas, impacto comunitário e preservação de técnicas artesanais tradicionais.

Aliança Mobiliário Circular

Esta aliança de empresas, instituições académicas e entidades governamentais está a trabalhar para transformar o setor do mobiliário português num exemplo de economia circular. Entre as suas iniciativas está o desenvolvimento de um "passaporte de materiais" standardizado para móveis, facilitando a futura reciclagem e recuperação de componentes.

A aliança também está a criar um marketplace digital para materiais recuperados de móveis em fim de vida e a desenvolver certificações e standards para o mobiliário circular em Portugal. O seu objetivo ambicioso é reduzir em 50% os resíduos de mobiliário enviados para aterros até 2030.

O impacto económico e social

O movimento do mobiliário sustentável em Portugal está a ter impactos significativos que vão além dos benefícios ambientais óbvios:

  • Criação de emprego: As empresas sustentáveis tendem a ser mais intensivas em mão-de-obra do que as operações convencionais, criando mais postos de trabalho por unidade produzida.
  • Preservação de técnicas artesanais: Muitas destas empresas estão a revitalizar técnicas tradicionais de marcenaria e artesanato que estavam em risco de desaparecer.
  • Desenvolvimento regional: Ao contrário da produção em massa concentrada em áreas industriais, estas empresas frequentemente operam em regiões rurais ou menos desenvolvidas, contribuindo para o desenvolvimento territorial mais equilibrado.
  • Reconhecimento internacional: O mobiliário sustentável português está a ganhar reconhecimento nos mercados internacionais, contribuindo para as exportações e para a imagem de Portugal como líder em design sustentável.

Desafios e oportunidades futuras

Apesar do progresso significativo, o setor do mobiliário sustentável em Portugal ainda enfrenta desafios importantes:

  • Escala: Muitas iniciativas sustentáveis ainda operam em pequena escala, tornando difícil competir em preço com mobiliário produzido em massa.
  • Sensibilização do consumidor: Embora esteja a aumentar, a consciência sobre os benefícios do mobiliário sustentável ainda precisa ser ampliada.
  • Regulamentação: Políticas mais robustas sobre gestão de resíduos, responsabilidade estendida do produtor e compras públicas verdes poderiam acelerar a transformação do setor.
  • Financiamento: Muitas startups inovadoras enfrentam dificuldades em aceder a capital para escalar as suas operações.

No entanto, as oportunidades são igualmente significativas. Com a crescente consciência ambiental dos consumidores, o aumento das políticas de economia circular a nível europeu e o potencial para inovação contínua, o futuro do mobiliário sustentável em Portugal parece promissor.

Conclusão

As empresas pioneiras que destacámos neste artigo estão a liderar uma transformação fundamental no setor do mobiliário português, provando que a sustentabilidade e a economia circular podem ser a base de negócios bem-sucedidos e inovadores.

Na Rumyanaya-Seledka, sentimo-nos honrados por fazer parte deste movimento transformador em Portugal. Acreditamos que as empresas sustentáveis não apenas produzem móveis com menor impacto ambiental, mas também criam valor social, preservam o património cultural e abrem caminho para um modelo económico mais regenerativo.

À medida que o setor continua a evoluir, esperamos ver mais inovação, colaboração e crescimento entre as empresas que estão a redefinir o que significa produzir mobiliário de forma sustentável em Portugal. Juntas, estas empresas estão a construir um futuro onde beleza, funcionalidade, durabilidade e responsabilidade ambiental caminham lado a lado.